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Nota de Esclarecimento da SBA

NOTA DE ESCLARECIMENTO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA (SBA)

O racismo é um problema grave no Brasil e deve ser combatido de forma veemente. Nesse sentido, os meios de comunicação exercem um trabalho importante ao discutir o tema. O programa Roda Viva dedicou uma edição especial a essa questão no dia 11/12, sob o comando de Augusto Nunes e com a presença, dentre outros convidados, da artista Elisa Lucinda. No decorrer do debate, Elisa comenta que os negros recebem menos anestesia em hospitais públicos. Cremos ser importante esclarecer essa situação.

Em 2011, Marcelo Rubens Paiva publicou no Estadão matéria intitulada “Pretas recebem menos anestesia”1. Nesse artigo, Paiva relaciona um estudo divulgado na Revista de Saúde Pública da USP, de 2005, intitulado “Desigualdades raciais, sociodemográficas e na assistência ao pré-natal e ao parto, 1999 -2001”2, de Maria do Carmo Leal e colaboradores. De acordo com os dados de Leal, no universo de gestantes analisado no estudo em questão, em serviços públicos e privados no Rio de Janeiro, gestantes negras receberam menos analgesia de parto do que as brancas. Entendemos que a manifestação da artista Elisa Lucinda se deu com fundamento nessas informações publicadas por Marcelo Rubens Paiva. Entretanto, é imprescindível a contextualização dos dados apurados no referido estudo.

Vivemos em uma sociedade bastante desigual em que, segundo dados do IBGE, 54% da população é negra. Essa mesma parcela é a que possui o nível de renda mais baixo da pirâmide social e por isso é a que se encontra mais vulnerável, inclusive no quesito saúde. Quando se analisa a diversidade racial no Brasil, levando em consideração a pobreza e outras formas de desigualdade social, a população negra vai receber proporcionalmente uma assistência médica mais limitada em todos os seus níveis, desde a dificuldade em se conseguir uma consulta com especialista até a realização de uma cirurgia e anestesia. Isso não significa, de maneira alguma, que a medicina e os seus médicos são racistas e preconceituosos, e sim que vivemos em uma sociedade em que a desigualdade social compromete o atendimento médico adequado a toda a população.  Entendemos que é dentro desse contexto que a declaração da artista Elisa Lucinda no programa Roda Viva deva ser interpretada.

A SBA, atualmente, é a terceira maior associação de médicos anestesistas do mundo e possui em seus quadros grande diversidade étnico-cultural. No segundo artigo do seu estatuto, a SBA afirma que busca “a melhoria contínua da qualidade dos serviços anestesiológicos oferecidos à população, sem qualquer forma de discriminação de raça, sexo, cor, religião ou classe social”. Esses valores norteiam nossa sociedade há quase 70 anos. São essas diretrizes que pontuam a formação de mais de 2.100 médicos em especialização nos 112 Centros de Ensino e Treinamento espalhados no país. Oferecer à sociedade profissionais capacitados e compromissados com a ética e a igualdade é parte de nossa missão. Cremos, dessa forma, contribuir para atenuar o importante problema levantado por Elisa Lucinda. A SBA se identifica com o combate a qualquer forma de discriminação social e racial e está à disposição para auxiliar toda iniciativa nesse sentido.

Obrigado

 

1. Paiva MR. Pretas recebem menos anestesia. Estadão, São Paulo, 9 abr 2011. Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,pretas-recebem-menos-anestesia-imp-,703837
2. Leal MC, Gama SGN, Cunha C B. Racial, sociodemographic, and prenatal and childbirth care inequalities in Brazil, 1999-2001. Rev Saúde Pública, 2005; 39(1): 100-107