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Artigo | Segurança do paciente: a importância do comprometimento

Por Rogério Alves Ribeiro

Evitar danos ao paciente é intrínseco ao trabalho dos profissionais de saúde, e Hipócrates ajudou a estabelecer esse precedente ao dizer: “O médico deve […] ter dois objetivos especiais com relação à doença, a saber, fazer o bem ou não fazer nenhum dano.”. No entanto, a medicina contemporânea ainda luta para cumprir sua missão principal. Há mais de 40 anos, uma revisão de 21 mil prontuários em 23 hospitais da Califórnia (EUA) observou uma incidência de 4,6% de eventos adversos em pacientes hospitalizados. Em 1999, um relatório marcou a história dos estudos sobre segurança do paciente ao revelar que o erro é fruto de sistemas e processos falhos. Dez anos mais tarde, um artigo demonstrou que ainda não se cumpriam processos de maneira segura como era necessário e que lideranças fortes e sistemas não punitivos seriam essenciais para reduzir os eventos adversos.  

Apesar de todos os esforços, chega-se em 2020 com dados impressionantes sobre eventos adversos e conhecimento de que a maioria deles poderia ser evitada. Muitas instituições ainda lidam com a cultura punitiva e a ausência de gerenciamento de risco. Essas informações são comprovadas por artigos especializados, mas também rotineiramente nos noticiários e nas conversas entre profissionais. Além dos dados notificados, há que se admitir a ocorrência de subnotificações, o que torna essa situação alarmante e reveladora de uma grande lacuna entre a segurança necessária e a oferecida. 

A elaboração da segurança do paciente procura se basear na segurança dos passageiros da aviação comercial. No entanto, constata-se um abismo entre ambas, verificado pelos inúmeros artigos publicados que comparam a rotina de pilotos e comissários de bordo com a dos profissionais de saúde. Afirma-se que é muito mais seguro viajar de avião do que ser admitido em um hospital. Vive-se, portanto, uma situação paradoxal, em que artigos referentes à segurança do paciente são publicados em grande quantidade, hospitais desenvolvem campanhas diversas, instituições realizam eventos referentes às metas internacionais de segurança e as organizações acreditadoras solicitam a atuação dos serviços certificados em políticas de segurança. Então, por que tantos eventos adversos evitáveis ainda ocorrem nos estabelecimentos de saúde? Por que números impressionantes não geram medidas eficazes para reduzir o problema? É importante frisar que um evento adverso não significa obrigatoriamente que houve erro ou negligência, mas significa que houve uma falha que gerou um resultado assistencial indesejado.