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Vacinação e anestesiologistas 

Por Daniel Veloso Viana Bomfim e Michelle Nacur Lorentz

Iniciamos o primeiro mês do ano e as notícias não foram animadoras. A pandemia do novo coronavírus continuou a se alastrar e ceifando vidas, com intensidade maior no estado do Amazonas, onde ocorre grave crise sanitária, pior do que no inicio de 2020. No dia 17 de janeiro de 2021, ressurgiu a esperança por dias melhores, quando o primeiro brasileiro foi vacinado no estado de São Paulo.

Ao longo da pandemia foi iniciada uma corrida pela vacina, capitaneada por alguns laboratórios e importantes universidades de todo o mundo, devido a urgente demanda de uma vacina com eficácia comprovada. A participação brasileira ocorreu por meio de parcerias entre as instituições Fiocruz e Butantan, com os laboratórios AstraZeneca e Sinovac.

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia, durante todo o período da pandemia, manteve-se atuante através da criação de chat para responder dúvidas sobre a Covid-19, publicações e elaboração de vídeos e protocolos de manejo das vias aéreas, uso de EPIs e manejo perioperatório. Os anestesiologistas em todo o país foram contemplados com atualização e conteúdo científico online, além de orientação via chat diariamente.

O compromisso dos anestesiologistas com a vida suplantou o medo do risco de contaminação pela alta geração de aerossóis durante o manejo das vias aéreas. Embora muitos dos nossos tenham perdido a vida, os colegas mantiveram-se firmes na linha de frente e a anestesiologia passou a atuar em todos os setores do hospital, desde o PA até os centros de terapia intensiva,  atuando de forma heroica, salvaram inúmeras vidas.

O estado do Amazonas, enfrentando uma situação caótica contou com a participação ativa da SBA, bem como de anestesiologistas de todo o país, que em parceria com a Associação de Anestesiologia do Estado do Amazonas realizaram uma campanha por doações para compra de EPIs e orientações na atuação dos anestesiologistas. Mais uma vez comprovamos a união da nossa especialidade e o verdadeiro conceito de time.

Diante do recrutamento emergencial dos médicos em todo Brasil para o atendimento de pacientes portadores da Covid-19 sob risco de insuficiência respiratória aguda, os anestesiologistas se mostraram os profissionais mais indicados nas unidades Covid e na composição de times de resposta rápida para IOT. Em nenhum momento nos furtamos do protagonismo desse papel e do risco que ele representava, ao contrário, aceitamos o desafio. Anestesiologistas em todo o país se colocaram no front dessa pandemia que configura verdadeiro cenário de guerra.

Agora com a aquisição das vacinas soube-se que os médicos anestesiologistas não foram contemplados na primeira fase da vacinação em nosso país.

Como entendemos ser o anestesiologista parte do grupo prioritário,  não apenas pelo altíssimo risco de contaminação pela elevada exposição aos aerossóis, mas também por ser força de trabalho fundamental nesse cenário de guerra, onde as baixas desses profissionais médicos impactarão em perda de inúmeras outras vidas, temos questionado aos secretários estaduais e municipais das capitais de todo o país, quais critérios utilizados na priorização das vacinas.

A SBA representada pelo Dr. Luis Antonio Diego, diretor de Defesa Profissional, elaborou  documento explicando às autoridades o papel primordial dos anestesiologistas nessa pandemia, solicitando que todos os anestesiologistas fossem contemplados nessa fase inicial.

Sabemos que os brasileiros aguardam a vacinação e anseiam por celeridade no processo e que esta seja distribuída a todos, mas é necessário avaliar as  prioridades, pois só assim poderemos fazer o enfrentamento da Pandemia  até que toda população possa estar imunizada e a vida possa retornar a normalidade.

Janeiro 2021